sexta-feira, 24 de maio de 2013

Porque participar da Marcha das Vadias?

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Nesse final de semana vamos tem em São Carlos a Marcha das Vadias. O evento teve início em 2011, no Canadá, quando, depois de uma série de casos de violência sexual em uma Universidade em Toronto, um segurança da instituição atribuiu a responsabilidade dos casos às roupas usadas pelas vítimas. A primeira edição do evento (Slutwalk, em inglês) reuniu mais de 3 mil pessoas e desde então tem se popularizando, principalmente pelas rede sociais.

Com palavras de ordem como “se ser vadia é ser livre, então somos todas vadias”, ou então “não é sobre sexo, é sobre violência”, a Marcha tem como principal bandeira a defesa dos direitos das mulheres. No país essa questão se torna mais importante pelo fato de termos uma mulher à frente do executivo.



Brasil: um breve panorama da violência

O fato de termos Dilma Rousseff como presidente não significa que a situação das mulheres melhorou no país, conforme o prometido em campanha. Isso porque, embora progressista no conteúdo, a Lei Maria da Penha não é aplicada em sua totalidade. Apenas 10% dos municípios brasileiros possuem delegacia especializada e um pouco mais de 1% possui casas abrigo.

Cartaz de divulgação da marcha.
Arte de Elisa Riemer.
Para agravar a situação, o descaso do governo fez com que, entre 2007 e 2011, apenas R$ 132 milhões fossem destinados para a área. Isso sem falar que entre 2009 e 2011 o repasse foi cortado em 50%. E isso não porque a situação das mulheres melhorou, mas porque o governo opta por priorizar o pagamento da dívida, que hoje consome metade do orçamento federal (48% em 2012).

Se ficamos chocados com casos como o de Eliza Samudio, Sandra Gomide, com o estupro de duas garotas pela banda baiana New Hit, ou o brutal assassinato da jovem indiana de 19 anos (estuprada por ter entrado em um ônibus), os dados do Movimento Mulheres emLuta (MML) revelam uma faceta ainda mais perversa do machismo em nossa sociedade. Muito além desses casos, que recebem todo o destaque midiático, dez mulheres são mortas diariamente no Brasil. Já os estupros, em 2012, foram contabilizados 12.886, ou seja, um a cada 40 minutos. Um salto, em oito anos, de 10 para 35 casos diários.

É preciso uma Marcha em São Carlos?

Obviamente, São Carlos não está excluído desse universo machista. Para isso basta lembrar do asqueroso caso de machismo ocorrido no Caaso, durante o “Miss Bixete” da USP. Mas as estatísticas são ainda mais macabras. Segundo o jurista Luiz Flávio Gomes (em publicação em um jornal local), entre 2006 e 2012 houve um crescimento médio anual de 19,7% nos casos de estupro no estado. O que significa um aumento de 230% no período – em números: 53.000 estupros!

E a “cidade sorriso” – como canta o hino – também não tantos motivos para sorrir. Em reportagem de capa do dia 15de março, o jornal Primeira Página revelou que na cidade uma mulher é vítima de agressão a cada 8 horas – 3 casos por dia. Entre janeiro e abril já foram registrados 390 casos, e a maioria são de lesões corporais (e não ameaças). Isso sem falar nos casos que sequer são registrados, nos casos de assédio moral, etc.

Charge feita pelo cartunista Carlos Latuff sobre o caso ocorrido na USP de São Carlos

Por todos esses motivos é que nós, do PSTU de São Carlos, achamos importante participar da Marcha da Vadias na cidade. Entendemos que o fim da opressão da mulher, bem como a dos negros, LGBTs e todas as outras formas, só terão fim com a superação do capitalismo, que é em essência um sistema baseado na opressão e exploração.


A Marcha das Vadias não tem um programa claro de combate às opressões, e é composta por várias correntes que muitas vezes se perdem achando que a questão da mulher se limita apenas à ação individual de cada uma delas, independente dos homens (ou até mesmo, contra eles). Para nós, do PSTU, a Marcha das Vadias é sim um movimento progressista, mas só terá eco quando estiver ligado à luta das mulheres trabalhadoras, de forma independente. A eleição de Dilma Rousseff é a prova cotidiana de que não basta ser mulher para acabar com o machismo. É preciso ser mulher, é preciso ser de luta, é preciso ser classista.
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