sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Depois de 35 anos, José Luis e Rosa Sundermann são anistiados

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Quase dez anos depois após o assassinato de José Luis e Rosa Sundermann, Estado brasileiro finalmente concede anistia política aos dois militantes trotskista. 

Cerca de 700 pessoas estiveram presentes no Ato que anistiou os ex-militantes da Convergência Socialita
Aconteceu no dia 25 de outubro, no auditório do Tuca (PUC-SP), a 77ª Caravana da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. A edição foi realizada especialmente para o julgamento de anistia dos ex-militantes da Convergência Socialista (CS), organização que deu origem ao PSTU.

Ao todo foram 25 companheiros julgados e anistiados. Embora muitas das perdas e danos sofridos pelas companheiras e companheiros não podem ser reparados simplesmente com a anistia ou com ressarcimento financeiro, foi um evento de grande importância política – afinal são trinta e cinco anos lutando para que o Estado reconhecesse a importância política da CS e de seus militantes na luta contra a Ditadura Militar.

Como bem lembrou Zé Maria, presidente nacional do PSTU, embora não tivéssemos optado pela luta armada, também tivemos nossos militantes presos, perseguidos, torturados e assassinados. A deputada federal Luiza Erundina (PSB), fez questão de relembrar que "quando, há 35 anos atrás, eu era assistente social e fazíamos a primeira greve do funcionalismo contra a ditadura, foram os militantes da Convergência Socialista que vieram nos ajudar".


Motivo especial

Para todo o Partido, mas, em especial, para os militantes da regional de São Carlos, o evento teve uma importância particular: a anistia de José Luis e Rosa Sundermann – dois militantes da cidade cruelmente assassinados em 1994. O casal já militava no final da década de 70, principalmente organizando os trabalhadores da Universidade Federal de São Carlos, onde José Luis trabalhava como técnico.


José Luis e Rosa Sundermann foram friamente assassinados na noite de 12 de junho de 1994. Na época, já militavam no recém criado PSTU, organizado os trabalhadores da cana e da laranja na região de Descalvado (SP). Provavelmente o que motivou o crime (a mando dos usineiros), visto que nada foi roubado da casa. O Brasil chegou a ser responsabilizado pela Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH), em 2005, pelo duplo homicídio. Mas até hoje o caso continua sem solução e os criminosos impunes. Para Ronaldo Mota, do PSTU de São Carlos que esteve no julgamento e era amigo pessoal do casal, "o reconhecimento da morte dos companheiros a serviço da luta é o mais importante".

Cartazes foram usados para
lembrar os militantes ausentes
João Zafalão recebe o certificado
de anistia em nome do casal

Real significado

A anistia do casal é, indubitavelmente, muito importante e simbólica – política e subjetivamente. É valiosa a luta dos companheiros para a derrubada da ditadura no país, motivo pelo qual foram anistiados. Mas mais importante ainda, é lembrarmos o fato de que a fatalidade aconteceu em junho de 1994. Ou seja, já haviam decorrido quase dez anos de democracia burguesa no país, e que, portanto, não se trata de um crime do regime militar.

E o que tiramos disso? Tiramos a lição de que a luta iniciada pelos companheiros, há 35 anos atrás e pela qual estão sendo lembrados, não acabou em 1985 com a ditadura. Porque era uma luta por uma sociedade justa e igualitária. E uma sociedade que pune a organização dos trabalhadores com homicídios qualificados, e brinda os criminosos com duas décadas de impunidade, pode ser qualquer coisa – menos justa e igualitária. 

Quando o cerimonialista, no auditório do Tuca, lembrou os nomes “José Luiz e Rosa Sundermann”, e a platéia completou “Presentes! Hoje e sempre!”, não se tratou apenas de uma solenidade – mas sim, de um fato. Fato amargo para os criminosos e mandatários, que tiveram que aceitar que sonhos não se apagam com balas, e vivaz para a militância de hoje, que vê em José Luis e Rosa um exemplo de vida e uma fonte inesgotável de inspiração para continuar lutando.

José Luis e Rosa Sundermann: presentes! 

por Romerito Pontes


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